“Meu nome é Ivan e eu sou viciado em pôquer eletrônico.”

Cassino I 23.01.04

Por: sync

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Creio que é assim que eu deveria me anunciar, diante de outros sofredores da mesma aflição, se tomasse vergonha na cara e me inscrevesse na Jogadores Anônimos. Ou, já que vivemos num mundo cada vez mais compartimentalizado, a Jogadores Eletrônicos Anônimos. Estaria ao menos de pé, sem graça e ruborizado, pronto para dar o primeiro dos 12 célebres passos no caminho de minha recuperação moral e física.Vou, no entanto, como tantas outras coisas (separar a roupa velha para dar aos pobres), deixando para depois, já em si um sintoma clássico do nefando hábito do jogador, eletrônico ou civil.Faço de conta que estou na garagem, ou sala dos fundos de colégio especialmente alugada para a ocasião, e, como o Ébrio, na voz de Vicente Celestino (ou mesmo Cauby Peixoto), resumo em hesitantes palavras a minha triste condição e sina.Tudo começou quando eu li um jornal. O jornal foi o início de minha perdição. Lá estava um jornalista, e inglês ainda por cima, narrando, em duas (duas!) páginas de tablóide, suas experiências no pôquer eletrônico. Não dou aqui, conforme fez o referido escriba, se esse título o infeliz merece, o nome e endereço da abominável instituição para não tentar possíveis companheiros de infortúnio ou passantes que por acaso venham a ouvir ou ver minha confissão desconsolada.Fato é que, num momento de ócio e fraqueza, adentrei o referido site eletrônico, passei pelo ritual de inscrição na malévola casa cibernética de perdição, e, uma vez de posse de pseudônimo (sabemos que somos uns sem-vergonhas) e senha, escolhi uma mesa e comecei a dar meus primeiros passos no demoníaco carteado.Meu pôquer, antes, era com cinco pessoas no máximo e o baralho da carta seis ao ás. Este que me tem em suas garras, uma infinidade de mesas e joga-se com o baralho todo.A variedade chama-se Texas hold’em e aceita dez pessoas de todas as partes do mundo. Texas hold’em! E poderia ser de outro estado americano que não o Texas, com suas obesidades e belicosidades? No primeiro dia fiquei uma hora me perdendo no carteado.No segundo, duas. No terceiro, três. Estou, verdade seja dita, ganhando uma pequena fortuna na hoje desvalorizada moeda que é o dólar: perto de 6 mil. Neste ponto me sento e me calo e cedo a vez àquele rapaz magro e feio, logo adiante. O fato de que o dinheiro é de mentirinha e nada me custou ou custa não é desculpa para minha fraqueza. Eu quero parar e não posso. No entanto, prometo: hei de vencer. Nem que seja só no pôquer eletrônico.

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