Jogos ilegais movimentariam ao menos R$ 1,3 bilhão no Rio ao ano

Destaque I 01.12.16

Por: sync

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RIO — Diante da crise que se abate sobre a economia fluminense, uma pesquisa encomendada pela Caixa Econômica Federal e elaborada pela FGV mostra uma fonte de receita inusitada: a partir de jogos hoje ilegais, como jogos de azar, do bicho e máquinas caça-níquel. Segundo o estudo, antecipado pelo colunista do GLOBO Ancelmo Gois, o jogo não regulamentado movimenta R$ 1,3 bilhão por ano. O equivalente a sete vezes o que arrecadou nos últimos anos a loteria estadual do Rio, a Loterj – em torno de 200 milhões ao ano.

Só o jogo do bicho movimenta R$ 419 milhões. Já os bingos e máquinas caça-níquéis, R$ 821 milhões. Outros jogos arrecadam ainda R$ 89 milhões. O levantamento tomou como base a pesquisa de orçamentos familiares do IBGE, que depende da autodeclaração dos entrevistados. Por isso, o próprio relatório considera que são números conservadores.
O estudo considera também que as deficiências da Loterj a impedem de arrecadar mais. Menciona que a loteria mais lucrativa e rentável do mundo é do estado americano de Massachusetts, onde o "pay out (percentual de apostas convertidas em prêmios)" é bem maior que no Brasil. Diante de uma crise de arrecadação no Rio, a Loterj também perderia apostas por ter ainda poucos pontos de venda, além dos prêmios pouco atrativos. Só no Rio, as loterias da Caixa, por exemplo, arrecadam "seis a sete" vezes mais que a loteria do estado.
Procurados pelo GLOBO, os professores responsáveis pelo texto do relatório não quiseram comentar os números, alegando que a pesquisa pertence à Caixa Econômica.
Já Magno José, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, favorável à regulamentação dos jogos, reforça que os números são conservadores, e que os jogos, uma vez legais, poderiam contribuir com a arrecadação do estado e do país. Só no Rio, segundo ele, há 35 mil pontos de jogo do bicho:
— Os números são muito maiores que os apresentados. Ela (a pesquisa) tem uma distorção que joga os números para baixo. Eles usaram dados do IBGE, em que o recenseador vai na casa de uma pessoa e pergunta pra uma pessoa humilde quanto ela joga no bicho todo dia. A maioria dos jogadores não fala e fica com medo. O jogo do bicho no país movimenta hoje R$ 12 bilhões por ano. Para cada três apostadores hoje no Brasil, só um vai para o jogo oficial. O jogo clandestino movimenta R$ 20 bilhões por ano e o oficial R$ 14 bilhões — argumenta Magno. —Toda clandestinidade é complicada porque gera disputa de mercado. A figura do clandestino vai sumindo quando você legaliza. Você criminaliza (o clandestino). As pessoas preferem jogar no legalizado que no clandestino. Tem mais segurança, conforto, várias coisas.
Magno observa ainda que a cidade do Rio é um destino turístico, que oferece potencial para a instalação de cassinos:
— O Rio tem um fluxo muito grande de turistas e você teria um movimento de jogo muito maior. O cassino geraria dinheiro. Os cassinos mantém o turista mais um dia onde existem. Ele é um equipamento de turismo. A Barra da Tijuca, com a quantidade de hotel que tem, seria fantástica. Todos que vêm ao Rio são unanimes em dizer que a Barra da Tijuca é perfeita.
Potencial desprezado
A pesquisa da FGV considera ainda que a Loterj deixa de aproveitar um potencial de arrecadação. De cinco modalidades de jogos que pode praticar, só trabalha com duas: a Rio de Prêmios e a Raspadinha do Rio. A média de apostas anuais per capta da Loterj são muito baixas: de apenas R$ 15 reais. As da Caixa são de R$ 90.
Lá fora, a média costuma ser bem maior: Espanha tem R$ 685,00 de média anual, a Grécia R$ 747,00, Portugal R$ 564,00 e França R$ 555,00, por exemplo.
Em 2014, a receita da Loterj com o Rio de Prêmios foi de R$ 122 milhões. Com a Raspadinha, chegou a R$ 82 milhões. (Globo Online)
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