JCB: Papo de Turfe como Luis Eduardo da Costa Carvalho

Jockey I 15.05.12

Por: sync

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: O turfe entrou em minha vida em 1980, quando eu participei da chapa do Francisco Eduardo de Paula Machado, que concorria pela sexta vez à presidência do Jockey Club Brasileiro. Na época, eu recebi o honroso convite para integrar a chapa, ocupando o cargo de Vice-Presidente Financeiro. Então foi assim que o JCB e o turfe entraram em minha vida.

Qual foi o seu envolvimento com os cavalos em todos esses anos?

LECCA: Eu lido com cavalo desde que nasci, gosto imensamente de cavalos, de montar a cavalo e monto desde criança, sempre usando o cavalo como uma forma de lazer e não como uma atividade esportiva. Depois, fui criador de cavalo durante muitos anos, da raça Mangalarga Machador, então, evidentemente, isso mostra o meu gosto pelo animal, pelo cavalo. Na ocasião em que fui Vice-Presidente Financeiro do JCB pela primeira vez, na década de 1980, eu fui um dos titulares do Stud Três Barras e, naquela ocasião, tivemos dois cavalos sem nenhum resultado. Mas, enfim, desde daquela época senti o gostinho do que era ser proprietário de cavalo de corrida. Então eu admiro o animal, gosto do animal, continuo montando até hoje, meus filhos durante muitos anos participaram de provas de Hipismo Rural e um dos meus filhos hoje monta regularmente na hípica e, inclusive montou nas primeiras etapas da Copa de Amadores Ernani Pires Ferreira.

O que as corridas de cavalos representam para você?

LECCA: Desde maio de 2008, quando eu assumi a presidência do Jockey Club Brasileiro, assumi também a função de principal autoridade do turfe do Rio de Janeiro e passei, a partir daí, a defender essa atividade com toda a minha energia e não só com uma visão regional, do turfe carioca, mas com uma visão de âmbito nacional. Passei a ter uma atuação em defesa do turfe da forma mais abrangente, com gestões junto à Câmara de Equideocultura do Ministério da Agricultura, com o próprio Ministro da Agricultura, interagindo com o Congresso Nacional, a fim de permitir a mudança da legislação que, vamos dizer, taxa as atividades turfísticas. Participei de eventos internacionais, fui a dois congressos sobre turfe, um na Argentina em 2009 e outro no Uruguai em 2011, passei a fazer parte, representando o Jockey Club Brasileiro, da diretoria da Associação Latinoamericana de Turfe e, inclusive, na última reunião da OSAF em Viña Del Mar em 2012, fui eleito o segundo Vice-Presidente da entidade. Então, hoje, o Jockey Club Brasileiro e o Luis Eduardo da Costa Carvalho têm uma representatividade internacional também nessa atividade.

E o que falta para o turfe nacional chegar a um nível mais elevado? Como o do turfe argentino, por exemplo?

LECCA: O turfe brasileiro, em vários aspectos, está à frente do turfe argentino. Hoje a criação nacional não fica nada a dever a nenhuma outra na América do Sul, que é muito boa por sinal. Temos excelentes criadores de PSI, na última semana, por exemplo, tivemos um leilão espetacular do Stud TNT, com uma média impressionante. Isso mostra a qualidade e o interesse de pessoas pela atividade. O que falta ao turfe brasileiro, na realidade, é uma forma de financiar a atividade, que é deficitária há muitos anos. Das quatro entidades que hoje ainda estão funcionando regularmente, o JCB é a que está, disparada, em melhor condição financeira e econômica. Eu credito isso muito à forma que o Jockey vem sendo gerido nos outros quatro anos. Pagamos os melhores prêmios, com absoluta regularidade, promovemos o maior numero de corridas por semana, enfim, a situação do clube é infinitamente melhor do que todos os demais. Mas, apesar disso tudo, a atividade dá prejuízo ao JCB há 16 anos consecutivos. Esse processo iniciou-se na gestão Fragoso Pires, continuou na gestão Luiz Alfredo Tunay, segue na gestão Luis Eduardo e seguirá daqui para frente, enquanto não ocorrer um fator externo ao turfe que permita reverter essa situação. Então, se você for analisar o que ocorre nos países da América Latina, ou o que acontece hoje nos Estados Unidos, aonde o turfe recuperou o seu glamour, aonde hoje o turfe tem uma condição regular, são exatamente os países que adotaram alternativas para o financiamento da atividade. Imaginar conseguir recuperar o turfe com o aumento do MGA é uma doce ilusão. Em relação a isso eu não tenho a mínima dúvida e não estou falando isso apenas pelo conhecimento adquirido a frente do JCB, mas, principalmente, pelas visitas que fiz ao exterior, os congressos em que participei, pelo o que eu vi e ouvi de dirigentes de outras atividades que organizam corridas de cavalo.

Quais são melhores cavalos/éguas que já viu correr?

LECCA: Estou ligado ao turfe como Presidente do JCB e também titular do Stud LECCA, então os cavalos que eu vi correr e que mais me chamaram atenção foram Tônemaí, Mandjula, Mee e Morena Matte.

Qual o cavalo/égua mais bonito que já viu?

LECCA: O cavalo que mais me impressionou, pela beleza e pela performance, foi o Itajara. Eu tive oportunidade de vê-lo correr e isso ficou gravado em minha memória.

Melhor animal de sua propriedade e/ou criação?

LECCA: Dos meus, sem duvida nenhuma, é o Tônemaí.

Quais jóqueis fazem a diferença?

LECCA: Como todos os turfistas brasileiros, sou um grande fã do Ricardinho, Jorge Ricardo. Que, alias, recentemente, me deu uma alegria enorme montando um cavalo de minha propriedade e ganhando a prova. Isso me deixou muito feliz. Outros jóqueis nesse período de existência do Stud LECCA me deixaram muito boa impressão, mas seria injusto citar nomes, pois certamente deixaria algum de lado.

Quais os melhores treinadores em sua opinião?

LECCA: De início, tive como treinador o Guignoni. E, quando o Guignoni deixou o CT Vale do Itajara, passei a ter cavalos com o Cosminho Morgado e com o Venâncio Nahid. Tenho uma grande admiração pelos três.

Seu momento inesquecível no turfe?

LECCA: O momento mais emocionante para mim foi o dia 28 de maio de 2008, quando ganhei a eleição para presidir o Jockey Club Brasileiro, o que me da muito orgulho.

Algum páreo marcante?

LECCA: Foi justamente a vitória mais expressiva que obtive, o GP Francisco Eduardo de Paula Machado (G1), com Tônemaí em 2010. Conquista que deu uma projeção nacional ao Stud LECCA.

O que espera do turfe brasileiro nos próximos anos?

LECCA: Juízo. Espero que o turfe brasileiro procure unir suas diferentes correntes, pois é uma atividade que atravessa uma situação bastante complexa e delicada. Estou muito otimista com a situação que o turfe está vivendo neste momento, porque há um alinhamento entre as quatro grandes entidades promotoras de corrida de cavalo e a Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários que há muitos anos não ocorria. Nós temos hoje, no Ministério da Agricultura, uma pessoa sensível ao turfe que, inclusive, esteve no JCB quando homenageamos o Senador Dornelles, o ministro Mendes Ribeiro que fez uma declaração de apoio, reconhecendo a importância da atividade. Hoje ele tem a compreensão de que o Turfe precisa receber do governo um tratamento diferenciado para que possa voltar a ter o destaque que já teve no passado.

O que você diria para um novo proprietário que está começando a investir em cavalos de corrida?

LECCA: Que está entrando em uma atividade que irá proporcionar a ele muita emoção, algumas alegrias e algumas frustações também, como toda e qualquer atividade. Para quem gosta de cavalo, gosta de emoção, ser proprietário é algo muito especial.

Como o senhor avalia sua gestão a frente do JCB ao longo desses quatro anos?

LECCA: Quem tem que avaliar minha gestão são os sócios do Jockey. Eu apresentei aos sócios na semana passada um balanço da nossa gestão, que começou em 2008 e termina agora em 2012. E o veredito final virá no dia 31 de maio, quando nós vamos ter a eleição para a escolha da nova diretoria. E, aí, nós vamos saber, se a maioria dos sócios aprovou ou não a gestão Luis Eduardo.

O senhor vê possibilidade do turfe brasileiro voltar a ter a projeção de anos atrás?

LECCA: Eu vejo. Hoje de forma menos fácil do que vi antes, porque nós desperdiçamos uma excepcional oportunidade, que era dar um aproveitamento mais eficiente e econômico ao patrimônio do clube para revertê-lo 100% a favor do turfe. Estou me referindo ao projeto Jockey Club Boulevard, que nasceu e foi desenvolvido na gestão do Presidente Taunay e estava em fase de maturação quando eu iniciei o processo de divulgação do projeto ao quadro social, para que ele pudesse se manifestar. Mas, o que nós assistimos foi um grupo de opositores ligados ao turfe trabalhando contra a viabilização desse projeto, o que acabou culminando com a desistência do empreendedor e recentemente com o tombamento de todo o patrimônio do Hipódromo da Gávea. Este tombamento derivou de uma ação de alguém que se diz defensor do turfe. Se ele entende que defender o turfe é isso, é uma opinião lamentável. Sendo assim, infelizmente, o turfe não vai voltar a ter o brilho que teve há 30, 40 anos atrás.

Algum recado final? 

LECCA: Estou muito satisfeito de ter presidido o JCB nestes últimos quatro anos, de ter realizado um velho sonho, que era fazer uma gestão profissional do Jockey. É uma atividade grande, complexa, com várias atividades ligadas e não tem como ser administrada de uma forma que não seja profissional. Então implantar esse modelo de gestão e alcançar os resultados que tivemos nesses quatro anos, é a maior alegria que eu tenho. Espero que isso tenha continuidade. Independente de quem for escolhido pelos sócios no dia 31 de maio, tendo isso na memória e conduzindo o JCB nessa linha, maiores serão as chances de termos sucesso. (JCB – por Celson Afonso – Fotos: João Cotta e Gerson Martins)

Como o turfe entrou em sua vida?

LECCA

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