Impasse com renovação do patrocínio da Caixa coloca em alerta clubes das séries A e B

BNL I 08.01.19

Por: Magno José

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Patrocinadora de 25 times que disputaram as séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2018, a Caixa Econômica Federal ainda não definiu se vai manter o investimento no futebol em 2019. O impasse tem deixado dirigentes preocupados, principalmente os de clubes menores, que têm no valor a sua principal fonte de renda.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou em dezembro, por sua conta no Twitter, que vai rever os contratos de publicidade do banco estatal, o que inclui os acordos com clubes de futebol. O novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, tomou posse nesta segunda-feira.

Ao GloboEsporte.com, a Caixa informou que “a estratégia sobre a renovação dos patrocínios está em fase de definição”.

Em 2018, o banco investiu R$ 127,8 milhões em patrocínios aos 25 times. O maior valor foi destinado ao Flamengo, R$ 25 milhões, seguido por Cruzeiro, que teve R$ 10 milhões mais R$ 800 mil pelo título da Copa do Brasil, e Santos, Botafogo e Atlético-MG, com R$ 10 milhões cada. Os dados foram enviados pela Caixa após pedido do GloboEsporte.com (confira na tabela abaixo).

Segundo a Caixa, atualmente, apenas dois clubes têm contrato em vigor com o banco: Botafogo (até fevereiro) e Sport (maio). Os demais clubes receberam nos últimos dias um e-mail da estatal informando que não está autorizada a utilização do uso da marca da empresa até que a nova política de contratos seja definida.

Valores dos patrocínios da Caixa aos times das séries A e B do Brasileiro

Clube Valor Período
Flamengo R$ 25 milhões 2018
Cruzeiro R$ 10 milhões + R$ 800 mil por conquista de título 2018
Atlético-MG R$ 10 milhões 2018
Botafogo R$ 10 milhões 08/2018 – 02/2019
Santos R$ 10 milhões 2018
Athletico R$ 6 milhões + R$ 800 mil por conquista de título 2018
Bahia R$ 6 milhões 2018
Vitória R$ 6 milhões 2018
Ceará R$ 4 milhões 2018
América-MG R$ 4 milhões 2018
Paraná Clube R$ 3,5 milhões 2018
Coritiba R$ 3 milhões 2018
Sport R$ 2,8 milhões 11/2018 – 05/2019
Fortaleza R$ 2,4 milhões + R$ 800 mil por conquista de título 2018
Atlético-GO R$ 2,4 milhões 2018
Goiás R$ 2,4 milhões 2018
Vila Nova-GO R$ 2,4 milhões 2018
Avaí R$ 2,4 milhões 2018
Ponte Preta R$ 2,4 milhões 2018
Sampaio Corrêa R$ 2 milhões + R$ 400 mil por conquista de título 2018
Paysandu R$ 2 milhões + R$ 300 mil por conquista de título 2018
CRB R$ 1,5 milhão 2018
CSA R$ 1,5 milhão 2018
Criciúma R$ 1,5 milhão 2018
Londrina R$ 1,5 milhão 2018

Equipes menores têm patrocínio como principal fonte

Essa indefinição preocupa alguns clubes, principalmente os que têm no patrocínio da Caixa sua principal fonte de receita.

Um desses casos é o do Londrina, que disputa a Série B do Brasileiro. O contrato do banco com o clube paranaense era de R$ 1,5 milhão por ano – juntos, outros 11 patrocinadores renderam ao Tubarão cerca de R$ 1,3 milhão em 2018. Uma proposta de renovação com a Caixa já foi apresentada, e o Londrina aguarda uma resposta.

– O impacto é grande, claro. A gente esperava que isso poderia acontecer, é um tempo de mudança política, de alto comando, então é normal. O que temos que fazer é esperar e ficar de olho no mercado. O peso desse impacto é para os clubes e também para a Caixa. Estrategicamente, esse patrocínio é muito importante para a Caixa também – comentou Marcelo Risso, diretor de marketing do Londrina.

Para justificar a importância do patrocínio à Caixa, Risso citou um relatório apresentado para a empresa que apontou um retorno de mídia de R$ 17,5 milhões envolvendo apenas a exposição da marca com o Londrina.

– Muitas pessoas acham que é uma “doação” feita pela Caixa, e não é nada disso. É uma grande publicidade para a Caixa, que tem um retorno muito rentável ao expor a sua marca em um esporte de alto rendimento – disse o dirigente do Londrina.

Recém-promovido à Série A do Brasileiro, o Fortaleza também vê com preocupação um possível fim de contrato com a Caixa. O Leão recebeu em 2018, pelo patrocínio, R$ 3,2 milhões, sendo R$ 800 mil pelo título da Série B, e contava com a renovação no orçamento para a atual temporada.

– Vejo com certa preocupação. A gente contava dentro do orçamento que foi aprovado. Se não for, temos que buscar uma outra marca, com valor semelhante, para não causar um problema dentro do nosso orçamento. Tive acesso a estudos que, depois que a Caixa começou a patrocinar o futebol, o valor da marca triplicou. O patrocínio em clube de futebol é um grande retorno – disse o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, ao GloboEsporte.com.

Aguardando uma definição

Outros clubes ainda aguardam a definição e mostram certa confiança em uma renovação, como o Avaí, que terminou o contrato com a Caixa em dezembro e informou ao GloboEsporte.com que já encaminhou uma proposta de prorrogação. Em 2018, o patrocínio era de aproximadamente R$ 3 milhões. Com o acesso à Série A do Brasileiro, a direção do Leão pretende aumentar o valor.

Também recém-promovido à Série A, o CSA vai enviar uma proposta de renovação à Caixa e acredita em uma resposta positiva para continuar com o banco como patrocinador master em 2019.

– A Caixa solicitou o envio da proposta para continuação do patrocínio. A gente vai enviar e esperar a resposta. Estamos tranquilos. A gente acabou de subir. Esperamos que a Caixa continue, é uma grande parceira. Eles mesmos que pediram essa proposta – disse Ricardo Lima, diretor de marketing do CSA.

O presidente do Ceará, Robinson de Castro, disse ao GloboEsporte.com que tem recebido a ligação de empresas para assumir o patrocínio master do clube. Porém, a prioridade está em renovar com a Caixa para 2019. O valor no ano passado era de R$ 4 milhões.

– Estamos recebendo muitas ligações de empresas, procurando saber como funciona (para ser patrocinador), quais são os valores de cada propriedade. Não tem ninguém ainda firmado como patrocinador master do clube. Também não sei como vai ser a política da Caixa Econômica para este ano, quais são os critérios que eles vão utilizar. Vamos tentar assegurar uma renovação junto à Caixa – destacou Robinson de Castro.

Clubes já planejam o futuro sem a Caixa

Enquanto alguns clubes aguardam uma resposta da Caixa, outros já não contam com a manutenção do patrocínio. O Cruzeiro é um deles. Por questão de valores, o time mineiro optou por não tratar de uma renovação com o banco.

– Vamos marcar uma coletiva do departamento comercial para explicar. Pelo o que sei, o Cruzeiro que não quer a Caixa. O Cruzeiro está procurando um valor maior e tem duas conversas bem adiantada – disse Itair Machado, vice-presidente de futebol do Cruzeiro, ao GloboEsporte.com, na semana passada.

O Santos, que teve a Caixa como patrocínio master de maio até o fim do ano passado, também busca um novo parceiro para 2019. O acordo com o banco era de R$ 10 milhões, valor considerado baixo pelo Peixe, que aceitou por falta de opções no mercado.

Contratos com outros esportes vão até 2020

Em outros esportes, a Caixa patrocina a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT), além do Comite Paralímpico Brasileiro (CPB), todos com contrato que começaram em 2017 e vão até 2020.

Patrocínio da Caixa para outros esportes

Esportes olímpicos/paralímpicos Valor total (contrato de 2017 a 2020) Valor previsto em 2018
Confederação Brasileira de Ginástica R$ 20 milhões R$ 5 milhões
Comitê Paralímpico Brasileiro R$ 95 milhões R$ 20 milhões
Confederação Brasileira de Atletismo R$ 60 milhões R$ 14,5 milhões

Fonte: Caixa Econômica Federal

A Caixa tem previsto ainda, até março de 2020, o investimento como patrocinadora da Liga Nacional de Basquete (R$ 5,5 milhões previstos em 2018) e da Liga de Basquete Feminino (R$ 2,5 milhões previstos no ano passado).

Em 2018, o banco investiu ainda outros R$ 31,3 milhões em outros patrocínios esportivos, a maior parte para corridas, projetos sociais e eventos.

No futebol, além dos times, a Caixa investiu também patrocinando campeonatos em 2018, como a Copa Verde, a Copa do Nordeste, as séries B e C do Campeonato Brasileiro, os estaduais de Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Piauí, além da Copa Espírito Santo. Ao todo, essas competições receberam R$ 10, 9 milhões em publicidade da estatal.

(GloboEsporte.com – Com colaboração de Robson Boamorte (SC), Thaís Jorge (CE) e Victor Mélo (AL)).

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