Fora da lei, mas dentro da tecnologia, jogo do bicho segue livre
Não só continua espalhado pelas ruas, como teve de se modernizar para não perder a clientela. O jogo do bicho, apesar de ilegal, também teve de se render à tecnologia e passou a ser feito por meio de aplicativo para celular.
As apostas na “loteria clandestina” antes eram feitas em cartelas de papel, que no fim do dia eram recolhidas para o sorteio da premiação. O apostador ficava apenas com um rascunho para conferir o jogo. Hoje, a aposta é feita pelo celular e o apostador recebe um comprovante de que fez a aposta impresso.
No ramo há 13 anos, um cambista – como são chamadas as pessoas que vendem os jogos – topou dar entrevista sem se identificar. Ele conta como foi a evolução da bolsa de apostas ilegais.
“Aqui no Mato Grosso do Sul, que eu sei, o aplicativo funciona só em Campo Grande e em Dourados, inclusive o programa deles (da cidade do interior) é melhor que o nosso, dá pra fazer várias apostas de uma vez só, aqui eu tenho que fazer uma de cada vez. O aplicativo chegou de lá de cima (comando do jogo do bicho), nós não tivemos opção de escolher se queríamos continuar com o talão ou não”.
O cambista revela ainda que os clientes se sentem mais seguros com as apostas eletrônicas. “A gente joga a aposta no aplicativo e imprime uma via que fica com o apostador, isso traz mais segurança para, porque antigamente o motoqueiro podia perder ou acontecer qualquer coisa com sua aposta e você não tinha como prova”, pontuou.
Fiscalização
O jogo do bicho tem artigo específico no Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, a Lei das Contravenções Penais. Quem for pego por explorar a “loteria ilegal” pode pegar pena de quatro meses a um ano de prisão, além de ter de pagar multa.
Titular da Deops (Delegacia Especializada de Ordem Política e Social), o delegado Paulo Henrique Sá, explica que a Polícia Civil fiscaliza o jogo do bicho rotineiramente, assim como fecha caça-níqueis.
O delegado admite a dificuldade de combater o jogo de azar. “A gente até recebe denúncias, apreendemos recentemente algumas maquinetas e temos dois ou três inquéritos abertos, mas existe uma aceitação social, está no dia a dia das pessoas”, afirma sobre a dificuldade da polícia em coletar informações e tocar apurações, por exemplo.
F
oi o que o Campo Grande News encontrou nas ruas. Apostadores assíduos, um casal de Ribas de Rio Pardo – a 103 km de Campo Grande –, que também preferiu não se identificar, não vê o jogo como ilegal e apostam há tanto tempo que nem se lembra mais. Eles revelam que já chegaram a ganhar mais de R$ 10 mil em um jogo. “Tem que estar com sorte, mas às vezes vale a pena”, disse um dos entrevistados.
Basta uma circulada pelos bairros da Capital para encontrar as banquinhas onde são feitas as apostas. Os locais também vendem loterias autorizadas e outros produtos, além de manter a bolsa de apostas clandestina.
História
O jogo associa 1 número para cada um dos 25 animais diferentes e surgiu há pelo menos 120 anos no Brasil. Conforme publicado pela revista Superinteressante, o banco de apostas foi criado para evitar que o zoológico do Rio de Janeiro (RJ) fechasse.
Na compra de um ingresso, um bicho era escolhido e caso sorteado no fim do dia, o comprador podia ser premiado com até 20 vezes o valor do bilhete. Em 1894, os bicheiros que se espalharam pela cidade e desde então, pelo país. (Campo Grande News – Anahi Zurutuza e Bruna Pasche)