Dinheiro das apostas: clubes brasileiros começam a explorar o mercado de jogos

Apostas, Destaque I 11.10.19

Por: Elaine Silva

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A BetWay, uma das maiores casas de aposta do mundo, é o patrocinador master do West Ham, da Inglaterra (Foto: AFP/Glyn KIRK )

Quatorze anos depois de serem vilãs do Campeonato Brasileiro de 2005 no escândalo da Máfia do Apito*, as casas de jogos invadem o mercado nacional com dinheiro a rodo. Cinco delas já são parceiras de mais da metade dos clubes da Série A. O Ministério da Economia disponibilizou por duas semanas a primeira minuta do decreto que regulamentará as apostas no Brasil. O prazo da consulta pública expirou na última sexta-feira. O avanço ocorre 10 meses depois de o então presidente Michel Temer sancionar a MP 846, em 12 de dezembro do ano passado.

A tendência é que o futebol brasileiro siga o modelo do Campeonato Inglês. Dos 20 clubes da Premier League, 10, ou seja, 50%, têm casas de apostas como patrocinador máster: Aston Villa, Bournemouth, Brighton, Brunley, Crystal Palace, Everton, Leicester, Newcastle, Norwich, Watford, West Ham e Wolverhampton. O índice na elite foi de 60% na temporada passada, e chega a 70% na segunda divisão.

Os acordos no Brasil ainda são tímidos. O Flamengo fechou com a Sportbet.io até o fim do ano. A parceria digital não contempla exposição da marca na camisa rubro-negra. É concentrada nas redes sociais do clube e nas ações do programa sócio-torcedor. O pagamento depende do engajamento da torcida e da adesão ao parceiro. O arquirrival Fluminense acertou com a KB88, da Kashbet, e expõe a marca no uniforme.

A expectativa é de que a regulamentação alavanque o orçamento dos clubes prejudicados pelo fim da injeção financeira da Caixa Econômica Federal. O governo de Jair Bolsonaro extinguiu o patrocínio. O banco estatal investiu R$ 665 milhões em 35 clubes do país desde 2012, mais de R$ 138 milhões em 2018. A tendência não é exclusividade brasileira. Em maio, a Major League Soccer (MLS) se tornou a primeira liga profissional de esportes nos Estados Unidos e no Canadá a permitir patrocínios de casas de apostas.

“Ficou claro que a saída da Caixa deixou um buraco nas contas dos clubes. Alguns não conseguiram obter novo patrocinador em 2019, e mesmo quando obtiveram, os valores foram menores. Essa lacuna nos patrocínios acabou sendo preenchida por bancos digitais e empresas de apostas esportivas, que efetivaram acordos comerciais com vários clubes de futebol”, analisa o especialista em direito desportivo Eduardo Carlezzo em entrevista ao Correio. Luciano Andrade Pinheiro, outro advogado consultado pela reportagem, aponta pontos

positivos e negativos no andamento do processo de regulamentação. Um deles, a necessidade de a empresa declarar uma espécie de nada-consta no pedido de autorização — a prova de que jamais operou aposta de forma ilegal. “A medida é interessante, pois o governo liberará uma atividade controversa e, caso autorizasse a atuação de quem opera ilegalmente, estaria contribuindo para ilicitude no setor”, observa o sócio do Corrêa da Veiga Advogados. Um dos dispositivos de segurança determina que as firmas constituam reserva de R$ 6 milhões a título de garantia para o pagamento dos prêmios. Dois temas são polêmicos, como a limitação de pagamento pela cessão de uso dos símbolos do futebol utilizados nas apostas. “Isso é um erro, pois qualquer clube, de futebol ou não, ou qualquer atleta que tenha seu nome usado pelas casas de apostas deve receber por isso”, contesta Luciano Andrade Pinheiro. O advogado aponta outro ponto sensível: a regulamentação da propaganda das casas de aposta prevista no texto. “Crianças e adolescentes devem ser preservados, por isso é indispensável a proibição de veiculação de propaganda que induza a ideia de que aposta é dinheiro fácil”, critica Luciano Pinheiro

Máfia do apito: Como funcionava

Deflagrado em 23 de setembro de 2005 pela Polícia Federal, o esquema de manipulação de resultados era comandado pelo árbitro Edílson Pereira de Carvalho e alterou a classificação da Série A após a remarcação de 11 jogos mediados por ele. Nagib Fayad, o Gibão, mentor da Máfia do Apito, e o juiz Paulo José Danelon também estavam envolvidos. Edilson e Danelon interferiram nos resultados das partidas em que eram escalados para que favorecessem os apostadores, comandados por Fayad. Os árbitros recebiam cerca de R$ 10 mil por partida fraudada.

Quatro perguntas para…

Bruno Maia, especialista em negócios e novas tecnologias no esporte.

Qual é a sua opinião sobre a chegada das casas de apostas ao futebol?

Só complementa o movimento que está acontecendo no mundo todo e a entrada no segmento com muita potência financeira. Isso não vai igualar a nossa condição de competição com o futebol europeu, certamente não irá, mas diminuirá um pouco essa diferença.

De que forma essa receita chegará aos times?

Na forma de patrocínio, ou, o que eu acho ainda mais importante, pelas rendas variáveis que isso pode gerar aos clubes. Cada vez mais a gente vive um momento em que as marcas se relacionam com os clubes de futebol buscando conversão, aumentado os resultados a partir da capacidade de engajamento real que os clubes possam gerar e também com novos direitos, como os direitos de transmissão, o uso das marcas dos clubes para essas plataformas.

Isso deve gerar um novo público?

As apostas acabam fomentando uma nova linguagem de acompanhamento do jogo, o que eu chamo de narrativa. Fala bastante com as novas gerações trabalhando com estatística, probabilidade. Isso é muito importante para uma galera mais jovem que tem isso em outros esportes, e no futebol tem menos. Isso ajuda a renovar público.

E as travas de segurança?

Existem questões importantes de segurança do jogo, regulamentação, controle, que precisam ser aplicados, mas elas vêm a reboque, todo

mundo junto em um movimento só. Sou um grande entusiasta dessa história toda.

Parceiras Fechadas:

Casa de Apostas: Botafogo, Flamengo,

Santos, Bahia e Cruzeiro

NetBet: Fortaleza e Vasco

Sportsbet.io: Flamengo

188BET: Atlético-MG

MarjoSports: Corinthians

KB88.com: Fluminense

(Super Esportes – Fonte: Correio Braziliense – Marcos Paulo Lima)

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