Capitalização perde para loteria.

Loteria I 22.01.04

Por: sync

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Embora a venda de títulos de capitalização tenha crescido 14,9% em 2003, com um faturamento total de R$ 5,4 bilhões, os prêmios que constituem seu principal atrativo representaram apenas 0,042% do faturamento global do setor. A possibilidade de ser sorteado com a compra de um título é praticamente a mesma de ganhar um prêmio na loteria (uma em 50 milhões no caso da Mega-Sena, por exemplo).

De acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão do Ministério da Fazenda, dos 194.731.118 títulos vendidos em 2002, apenas 106.332 foram sorteados. Ou seja, 0,054% do total negociado. Além disso, o montante gasto com premiações também foi irrisório: 0,042% da arrecadação.

Em um concurso da Mega-Sena, por exemplo, 31% do total arrecadado vai para a premiação, percentual muito superior ao oferecido pelos títulos de capitalização.

No mercado de capitalização, o dono do título precisa ter a consciência de que a possibilidade de perder dinheiro é grande. Isso porque parte do que seria rendimento de uma aplicação acaba utilizada pela administradora para o pagamento dos prêmios. Além disso, a parcela a ser resgatada ao final do contrato recebe correção abaixo de qualquer investimento em renda fixa ou até da inflação. Geralmente, os planos são indexados à TR.

"A capitalização deve ser uma alternativa apenas para quem gosta de jogar, sem compromisso", comenta o presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Oliveira. Segundo ele, em um título de capitalização de 120 meses, por exemplo, cerca de 25% do total dos recursos acaba aplicado em despesas administrativas. "Quem pretende adquirir um bem por meio de capitalização está fazendo uma péssima opção", alerta Oliveira.

De acordo com cálculos da Anefac, no caso da compra de um título de R$ 50 mil, de início, R$ 8,8 mil são reservados para os prêmios. Ao fim de 120 meses de duração de contrato, descontada a inflação, as prestações terão somado R$ 81.153. No entanto, o limite de resgate ficará em R$ 69.583, uma perda de R$ 11.570. Se optasse pela tradicional caderneta de poupança, o investidor desembolsaria, ao final dos dez anos, R$ 121,8 mil.

Para fugir da capitalização, Oliveira sugere a aplicação em consórcio. "O melhor mesmo é economizar para comprar o bem à vista. Se não for possível, no consórcio, a correção das prestações por um índice de preços garante o poder de compra durante o contrato", argumenta.

Por se tratar de um jogo, a compra de um título de capitalização precisa ser feita com cautela. "O risco é todo assumido pelo consumidor. Não existe qualquer garantia em nenhum contrato desse tipo", esclarece a assistente de direção do Procon de São Paulo, Dinah Barreto. De janeiro a novembro do ano passado, o órgão registrou 2.435 reclamações contra empresas de capitalização, 70% referentes à propaganda enganosa."Em muitos casos, as vendas são feitas com má-fé e induzem o consumidor a pensar que terá a garantia de um automóvel ou imóvel", diz Dinah.

Jornal de Brasília (DF) – Minervino Júnior

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