Bingo recupera espaço após crise.

Bingo I 27.12.04

Por: sync

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Os bingos já superaram a crise provocada pelos 73 dias em que foram proibidos de funcionar no início do ano. Em fevereiro, antes da edição da medida provisória que proibiu a atividade, o Brasil tinha 1.100 bingos. Em maio, quando o Senado derrubou a MP, apenas 600 reabriram. Desde então, outros 200 já voltaram a funcionar. O movimento caiu 20% logo após a reabertura, mas em poucas semanas voltou ao original. O setor aposta agora num novo parceiro de lobby, a Associação Brasileira de Loterias Estaduais (Able). "Nós e a Associação Brasileira de Bingos (Abrabin) estamos num esforço conjunto, porque o interesse é um só", diz Roberto Rabelo, presidente da Able. A intenção é fazer lobby no Congresso para encontrar alternativas à decisão do Supremo Tribunal Federal, referente ao Distrito Federal, pela qual só a União pode legislar sobre jogos, inclusive loterias. "Se o STF mantiver esse entendimento nas ações semelhantes sobre outros 14 Estados, as loterias vão quebrar. Os Estados terão prejuízos de R$ 1 bilhão e 450 mil empregos serão extintos." Rabelo tem acompanhado audiências dos presidentes das loterias com governadores para pedir apoio a uma proposta alternativa: que a União repasse aos Estados parte da competência de legislar sobre jogos. Há chances de isso acontecer. No início do ano, o governo estudava legalizar os bingos, mas editou a MP para reagir ao escândalo Waldomiro Diniz – assessor do Palácio do Planalto flagrado em gravações negociando propinas com o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira. O presidente da Federação Brasileira de Bingos (Febrabingo), Jaime Sirena, elogia a ação da Able, mas não quer misturar as coisas. "Nosso foco é trabalhar pela regulamentação definitiva. Dos 108 países-membros da Organização Mundial do Turismo, apenas Brasil e Cuba não têm isso." A gerente de bingo Leni Fátima Paparotti Fernandes levou um susto quando saiu a MP. "Pouco antes, o Lula tinha criado uma comissão para tratar do assunto." Leni prefere não revelar o nome do bingo de luxo onde trabalha, que foi exceção – não demitiu ninguém. "Mas as pessoas sabiam que a empresa não agüentaria muito tempo." E, mesmo com salários em dia, funcionários tiveram problemas financeiros. Os vendedores, por exemplo, ganham R$ 600,00. Com as caixinhas, o valor sobe para R$ 2 mil. "Teve gente que deixou de pagar escola de filho, foi despejada por atraso de aluguel. Mas foi pior em outros bingos." "Mesmo com as empresas fechadas, havia custos que precisavam continuar sendo pagos, como pessoal", diz o presidente da Abrabin, Olavo Sales. "Muitas se fragilizaram e não conseguiram reabrir." A empresária Marli Santiago, freqüentadora assídua de bingos, diz que quase entrou em depressão quando as casas fecharam. "Fiquei perdida, faço a minha social no bingo." Os jogadores compulsivos tiveram reações diferentes ao fechamento. Segundo o psiquiatra Marcelo Fernandes, do Ambulatório de Jogo Patológico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estudos científicos apontam que, nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália, jogadores compulsivos representam de 1,5% a 4% da população. "Não temos estudos no Brasil, mas acredita-se que os números sejam semelhantes. Mesmo se for 1%, é muita gente." Nos dois meses de proibição, o ambulatório registrou alta de 40% na procura, que era de 15 pessoas por semana. "Acho que o fato de não ter a possibilidade de jogar gerou desestabilização emocional. Antes, as pessoas sabiam que, se tivessem vontade e não agüentassem, teriam para onde correr." Alguns pacientes precisaram ter a medicação reforçada. Outros transferiram a compulsão para álcool e drogas. "O que poderia ter sido tranqüilizador, para muitos foi o oposto. Mas agora houve estabilização da procura." Nos grupos de Jogadores Anônimos, programa de auto-ajuda semelhante aos Alcoólicos Anônimos, o número de freqüentadores no Estado – de cerca de 350 pessoas – caiu pela metade com o fechamento dos bingos. "As pessoas acharam que estavam livres", diz a coordenadora estadual do JA, uma ex-jogadora que pediu para não ser identificada. "Mas, com bingos reabertos, muitas tiveram recaída." Estado de São Paulo – Laura Diniz

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